A Reforma Tributária é a maior virada do sistema de impostos sobre consumo no Brasil em décadas e começa a afetar a operação das empresas a partir de 2026.
O novo modelo, baseado em um IVA dual, troca o emaranhado de tributos atuais por uma lógica de crédito amplo, cobrança no destino e transparência em nota. Mas, para isso, exige planejamento, ajustes em ERPs e atualização de processos fiscais.
Para as empresas, mapear impactos por setor, orientar a transição e reduzir riscos de compliance serão tarefas do dia a dia. Isso porque, 2026 inaugura a fase de testes com CBS e IBS; de 2027 a 2032 ocorre a convivência entre sistemas; e em 2033 o novo regime passa a vigorar por completo.
O início de uma nova era no sistema tributário brasileiro
A Reforma Tributária, regulamentada a partir de 2025,organiza a tributação do consumo em dois tributos não cumulativos: CBS (federal) e IBS (estadual/municipal), além do Imposto Seletivo.
Assim, a promessa é simplificar, reduzir distorções e dar previsibilidade às decisões de investimento.
Visando facilitar a migração para o novo modelo, o Ministério da Fazenda estruturou a regulamentação da Reforma Tributária, detalhando leis complementares, regimes específicos e cronogramas de implementação. Tudo para ajudar as empresas a acompanharem a transição sem perder prazos.
Contexto histórico: PEC 45/2019 e EC 132/2023
O debate começou na Câmara pela PEC 45/2019 e culminou na Emenda Constitucional nº 132, promulgada em 20/12/2023, que alterou o Sistema Tributário Nacional.
Com isso, abriu caminho para o novo desenho de IBS e CBS e para regras de transição até 2033.
Porque 2026 é um marco decisivo
Em 2026, teremos o “ano-teste”. As empresas passam a emitir, nas notas, os valores correspondentes aos novos tributos, permitindo calibração de sistemas, verificação de créditos e ajustes operacionais antes da cobrança plena.
A transição segue escalonada:
- Extinção de PIS/Cofins em 2027–2028,
- Migração progressiva de ICMS e ISS para o IBS em 2029–2032 e
- Vigência integral em 2033 — com objetivos de neutralidade, transparência e redução da cumulatividade.
Objetivos da Reforma Tributária
A reforma busca atacar gargalos estruturais do modelo atual. Em linguagem prática, os objetivos se desdobram em cinco frentes:
- Simplificação do sistema
Substituir múltiplos tributos sobre consumo por dois (CBS e IBS), com regras uniformes e plataforma digital integrada, reduzindo o custo de conformidade e o contencioso. - Eliminação da cumulatividade
Crédito financeiro amplo e não cumulativo em toda a cadeia para eliminar o “efeito cascata” que hoje encarece produtos e reduz competitividade. Desse modo, alinhará o Brasil às boas práticas de IVA (OCDE, 30/11/2022. - Cobrança no destino
A tributação ocorre onde o consumo acontece, diminuindo a “guerra fiscal” e trazendo previsibilidade para cadeias interestaduais, com impacto direto na formação de preços e logística. - Transparência em nota
A alíquota total passa a ser discriminada para o consumidor e para o tomador empresarial, facilitando auditoria interna e governança de preços. - Justiça fiscal
O desenho prevê isenção para a Cesta Básica Nacional e cashback tributário para famílias de baixa renda, devolvendo parte do imposto e reduzindo regressividade.
Em síntese, a Reforma Tributária pretende simplificar, dar neutralidade e tornar o sistema mais previsível.
Para as organizações que atuam no país, isso significa reestruturar rotinas, revisar controles e preparar times para um ambiente de dados mais integrado. Ao mesmo tempo,permitirá aproveitar as oportunidades de eficiência que emergem dessa mudança.
Principais mudanças propostas / já implementadas
A Reforma Tributária 2025 é estruturada em três pilares: novos tributos, cronograma de transição e mecanismos de compensação.
1. Novos Tributos
- Criação do IBS e da CBS
O IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) será compartilhado por estados e municípios; a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) terá gestão federal. Ambos seguem a lógica de IVA dual, com crédito amplo e cobrança no destino. - Imposto seletivo na Reforma Tributária
Destinado a produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e combustíveis fósseis. Esse instrumento tem caráter extrafiscal, funcionando como incentivo ao consumo mais sustentável. - Extinção gradual de tributos atuais
Entre 2026 e 2033, PIS, Cofins, ICMS, ISS e parte do IPI serão substituídos. Esse processo inclui fases de convivência e redução progressiva das alíquotas antigas.
2. Cronograma oficial de transição
- 2026: início do “teste” com alíquotas simbólicas de IBS e CBS.
- 2027–2028: extinção de PIS/Cofins e implantação da CBS com alíquota integral.
- 2029–2032: redução gradual de ICMS e ISS, com IBS crescendo em paralelo.
- 2033: plena vigência do novo sistema.
3. Mecanismo de compensação
Benefícios estaduais deixam de existir até 2032. Em substituição, surgem fundos de compensação para estados produtores e municípios impactados.
Segundo a Receita Federal (2025), a nova arquitetura de impostos prevê regras uniformes de créditos, reduzindo litígios e custos de compliance.
Para empresas, a grande mudança será a adaptação tecnológica e a necessidade de interpretar corretamente as normas complementares, já que a regulamentação da Reforma Tributária ainda está em andamento via PLPs (Câmara dos Deputados, 2024).
A Reforma Tributária 2025 e os impactos gerais para empresas e contadores
A substituição dos tributos sobre consumo impactará custos, margens, fluxo de caixa e compliance.
Custos e margens
Setores com cadeias longas, como a indústria e exportadores, tendem a se beneficiar. Já serviços e agropecuária, com cadeias curtas, podem ver aumento relativo de carga.
Contudo, estima-se ganho de competitividade internacional de até 10% para exportadores após a transição.
Fluxo de caixa e capital de giro
A não cumulatividade plena altera a dinâmica de créditos. Empresas precisarão reforçar controles financeiros para evitar descasamentos entre débito e crédito.
Precificação
Com a cobrança no destino, contratos terão de ser revistos. Empresas que vendem interestadualmente enfrentarão novos cálculos de preços e margens.
Obrigações acessórias e compliance
Apesar da promessa de simplificação futura, no início a transição aumentará a complexidade. Sistemas de gestão, por exemplo, deverão ser atualizados e testados e o compliance exigirá atenção redobrada no período híbrido.
Regimes tributários
- Simples Nacional: preservado, mas com limitações no aproveitamento de créditos por clientes PJ.
- Lucro Presumido e Lucro Real: esses dois regimes sofrerão mais impacto com a Reforma Tributária 2025, pois dependerão de novos cálculos de créditos e ajustes contábeis.
Em resumo, empresas precisarão equilibrar margens, revisar preços e investir em tecnologia fiscal. Contadores terão papel central em orientar esse processo e reduzir riscos.
Desafios e oportunidades da transição

A convivência de sistemas entre 2026 e 2032 será o maior desafio. Por isso, as empresas enfrentarão dificuldades operacionais, já que terão de manter registros paralelos para regimes diferentes.
Veja a lista do que precisa ser superado para que a empresa mantenha-se em conformidade com a Reforma Tributária.
Desafios técnicos
- Atualização de ERPs e sistemas de emissão de notas.
- Necessidade de treinar equipes para lidar com dois modelos.
- Gestão de créditos em um ambiente híbrido.
Desafios operacionais
- Revisão de contratos de fornecimento e vendas.
- Ajustes no fluxo de caixa durante a sobreposição de regimes.
- Acompanhamento de regulamentações complementares em tempo real.
Oportunidades geradas com a Reforma Tributária
- Maior previsibilidade tributária no médio prazo.
- Redução da litigiosidade fiscal.
- Potencial de simplificação e competitividade global a partir de 2033.
Contudo, mesmo com todos os obstáculos a serem superados, a redução da cumulatividade e a transparência em nota aumentam a segurança jurídica, estimulando investimentos e expansão de negócios.
Nesse cenário, a contabilidade deixa de ser apenas cumpridora de obrigações e passa a atuar como consultoria estratégica, traduzindo regras complexas em decisões práticas e lucrativas.
Preparação prática para todas as empresas
A transição para o novo modelo exige um plano em camadas. Nosso roteiro, validado por guias de mercado e normas oficiais, prioriza seis frentes:
1) Diagnóstico fiscal e mapeamento de processos
Levantar tributos atuais, regimes, créditos e pontos de risco por operação (venda, compra, logística). Isso permite projetar efeitos das novas alíquotas e da não cumulatividade sobre margens e preços. O cronograma oficial (2026–2033) serve como “linha do tempo” para priorizar entregas e marcos internos.
2) Revisão de contratos e políticas comerciais
Migrar para cobrança no destino altera cláusulas de preço, reajuste e recolhimento. Contratos interestaduais e B2B precisam espelhar a formação de preço com créditos amplos em IBS e CBS. A regulamentação da Reforma Tributária detalha regimes e exceções, orientando ajustes setoriais.
3) Adaptação tecnológica (ERP, NF-e, SPED)
Criar trilhas de testes: cadastros, CFOP/NBS, parametrizações, relatórios de crédito/débito e conciliações. Ferramentas de monitoramento ajudam a cruzar “sistema antigo x novo” durante a convivência.
4) Capacitação das equipes
Treinar os times fiscais/contábeis e áreas de preço/vendas. A literatura de mercado recomenda formar squads multidisciplinares e usar automação e analytics na fiscalização de créditos.
5) Planejamento tributário e simulações
Rodar cenários com diferentes cestas de insumos, mix de produtos e perfis de clientes para avaliar impacto de alíquotas, imposto seletivo e políticas de crédito.
6) Governança de compliance
Estabelecer KPIs de qualidade de dados, conferência de notas, trilhas de auditoria e gestão de riscos, especialmente no período híbrido. Materiais da PwC compilam boas práticas e checkpoints por etapa
Com esses cuidados, o resultado esperado é: reduzir retrabalho, precificar com segurança e preservar liquidez ao longo da transição da Reforma Tributária.
Impactos diretos da Reforma Tributária para as PMEs

Além da necessidade de rever contratos, atualizar sistemas e lidar com o novo modelo de créditos, as PMEs vivem particularidades que tornam a transição mais desafiadora.
Capital de giro limitado
Negócios de menor porte dificilmente têm reservas para absorver descasamentos de caixa. Isso significa que atrasos na apropriação de créditos ou aumento de custos com ajustes contratuais podem comprometer liquidez no curto prazo.
Dependência de soluções acessíveis
Muitas PMEs utilizam softwares básicos de emissão de notas e contabilidade simplificada. A adaptação para o novo padrão de IBS e CBS exigirá atualização tecnológica, mas dentro de um orçamento enxuto.
Competitividade em mercados locais
Pequenos negócios muitas vezes não conseguem repassar integralmente aumentos de carga ou ajustes de preço para seus clientes. Especialmente em segmentos de serviços, onde a margem é mais estreita e a concorrência, mais pulverizada.
MEI e microempresas
Embora não integrem diretamente a transição para o novo IVA dual, esses empreendedores dependem de regras claras, comunicação simples e apoio de entidades e contadores para compreender impactos indiretos.
A Reforma preserva o Simples Nacional, mas com mudanças na forma de aproveitamento de créditos por clientes PJ de empresas optantes pelo Simples. Fluxo de caixa, tecnologia acessível e competitividade regional se tornam variáveis críticas para atravessar a mudança com segurança.
Oportunidades e riscos para PMEs
A revisão de contratos, precificação e adaptação de sistemas também se aplica às pequenas e médias. Mas, ao olharmos apenas para o universo das PMEs, surgem oportunidades e riscos próprios.
- Maior previsibilidade tributária: para negócios que operam em mercados locais, onde margens são estreitas e a concorrência intensa, saber de antemão como será a carga tributária nos próximos anos ajuda no planejamento de preços, estoque e investimentos;
- Redução gradual da burocracia: apesar de exigir esforço na transição, o novo sistema tende a simplificar declarações e apurações, algo especialmente valioso para empresas sem equipes fiscais internas;
- Riscos significativos: pequenas empresas têm menor capacidade de absorver aumentos relativos de carga, sobretudo em serviços, onde a cadeia curta gera poucos créditos. Além disso, a necessidade de investir em tecnologia e capacitação pesa mais no orçamento de uma PME do que em grandes corporações.
Portanto, a Reforma Tributária 2025 abre espaço para ganhos de previsibilidade e simplificação, mas exige atenção especial para que os riscos de custo e competitividade não comprometam a sustentabilidade de pequenos negócios.
Como PMEs podem se preparar
As ações descritas em preparação prática para todas as empresas como diagnóstico fiscal, revisão contratual, adaptação de ERPs e monitoramento regulatório, também devem ser seguidas pelas PMEs.
A diferença está na forma de execução, já que pequenos negócios têm menos recursos e precisam de estratégias viáveis.
Um caminho é avaliar, junto ao contador, se permanecer no Simples Nacional continua sendo a melhor escolha.
Para empresas que vendem muito para clientes PJ, pode ser interessante estudar a migração para o Lucro Presumido ou Real, a fim de gerar créditos e ganhar competitividade. Essa decisão deve ser baseada em simulações de margem e fluxo de caixa, considerando o perfil do negócio.
Outro passo prático é adotar soluções tecnológicas acessíveis, como ERPs simplificados ou sistemas de emissão de notas com módulos básicos para IBS e CBS. Muitas vezes, ferramentas de baixo custo já oferecem relatórios que ajudam na conciliação de créditos.
Além disso, o planejamento de fluxo de caixa precisa ser mais rigoroso. Com capital de giro limitado, PMEs devem projetar entradas e saídas considerando atrasos no aproveitamento de créditos.
Por fim, é recomendável buscar apoio de especialistas em contabilidade, investimento que ajudará a reduzir custos de adaptação.
Papel da contabilidade para PMEs se adequarem à Reforma Tributária
Grande parte do papel consultivo da contabilidade, descrito anteriormente como orientar regimes, apoiar na precificação e reduzir riscos, também vale para as PMEs.
Contudo, para empresas menores, o contador não é apenas um orientador estratégico: muitas vezes, é o único especialista tributário disponível.
Assim, o profissional atua como tradutor das novas regras, explicando tudo em linguagem simples.
Também ajuda na tomada de decisão sobre o regime tributário, indicando se o Simples ainda é vantajoso ou se a migração pode gerar economia – cálculo decisivo para manter a competitividade.
Outro ponto crítico é o apoio na gestão de margens e precificação. O contador assume papel direto em ajustar preços e contratos de acordo com a lógica de cobrança no destino.
Por fim, oferece educação contínua, seja por meio de relatórios, treinamentos ou reuniões periódicas.
Com isso, reduz a insegurança do empreendedor e fortalece a previsibilidade do negócio diante da Reforma Tributária.
Como a Confere Contabilidade pode apoiar sua empresa nesse novo cenário

Na Confere Contabilidade unimos experiência e processos claros para cuidar das empresas de nossos clientes no presente, sempre com o olhar voltado para crescimento e futuro.
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Estamos prontos para caminhar ao seu lado e garantir uma transição segura no cenário da Reforma Tributária, do diagnóstico à execução, para que essa mudança seja uma oportunidade de otimização do negócio, e não um susto que traga riscos ou impactos maiores.
FAQ sobre a Reforma Tributária
1. A Reforma Tributária vai aumentar os impostos?
O propósito não é elevar a carga tributária, mas simplificar. A alíquota-padrão será calibrada para manter a arrecadação estável, embora alguns setores possam ter aumento ou redução do peso tributário.
2. O Simples Nacional vai acabar?
Não. O Simples continua existindo, mas haverá ajustes nas operações entre empresas, principalmente nas transações B2B.
3. Quais impostos deixam de existir?
PIS, Cofins, ICMS, ISS e parte do IPI serão substituídos de forma gradual pelos novos tributos IBS e CBS.
4. O que são IBS e CBS?
O IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) será administrado por estados e municípios. A CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) será federal. Ambos seguem o modelo de IVA dual, com créditos financeiros.
5. O que é o Imposto Seletivo?
É um tributo voltado a desestimular o consumo de bens nocivos à saúde ou ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e combustíveis fósseis.
6. O que significa cobrança no destino?
O imposto será recolhido no local onde o bem ou serviço é consumido, e não onde foi produzido. Essa mudança busca reduzir desigualdades regionais e acabar com a guerra fiscal.
7. O que é o cashback tributário?
É a devolução de parte do imposto pago por famílias de baixa renda, para tornar o sistema mais justo e progressivo.
8. Como será a transição para o novo sistema?
Em 2026 haverá um teste (CBS com alíquota simbólica). De 2027 a 2032, o novo sistema conviverá com os tributos atuais. A partir de 2033, os impostos antigos serão extintos e o novo modelo passa a vigorar plenamente.
9. Quais setores mais ganham com a Reforma?
Indústria e exportadores devem ser beneficiados, já que a não cumulatividade elimina o efeito cascata e reduz créditos acumulados.
10. Quais setores podem perder?
Serviços e parte do agronegócio podem enfrentar mais custos, pois têm cadeias produtivas curtas e menor aproveitamento de créditos tributários.



